O presidente dos EUA, Barack Obama,
anunciou nesta sexta-feira (17) uma série de reformas nos programas de
inteligência dos EUA, após o caso dos vazamentos feitos pelo
ex-consultor Edward Snowden.
Obama anunciou que as agências de inteligência vão interromper a
prática de espionar as comunicações de dezenas de líderes internacionais
considerados "amigos e aliados" dos EUA.
"Deixamos claro à comunidade de inteligência que, ao menos que exista
um urgente propósito de segurança nacional, não vamos monitorar as
comunicações de chefes de Estado e de governo entre nossos mais próximos
amigos e aliados", disse em discurso no Departamento de Justiça, em
Washington.
No entanto, Obama afirmou que a inteligência americana vai continuar
coletando informações sobre as "intenções" de outros governos, e os EUA
não vão "pedir desculpas" pelo fato de sua inteligência ser mais
eficiente.
Privacidade
Obama classificou as mudanças anunciadas nesta sexta como as mais profundas desde que ele assumiu o governo.
Obama classificou as mudanças anunciadas nesta sexta como as mais profundas desde que ele assumiu o governo.
Elas diminuem o poder da NSA (Agência de Segurança Nacional) e outros
órgãos de inteligência, em respeito à proteção das liberdades civis, mas
mantêm a coleta de informações.
As medidas anunciadas também prevêem o fim do armazenamento, por parte
do governo, de uma enorme quantidade de dados telefônicos, os chamados
metadados. Obama anunciou que vai pedir que seja desenvolvido um método
alternativo para estocar essa informação.
Obama ressaltou que é necessária uma nova abordagem do tema.
"Por isso, ordenei uma transição que eliminará o programa de coleta de
metadados como existe atualmente, a Seção 215, e criar um mecanismo que
preserve as capacidades que temos sem que o governo mantenha esses
metadados", completou.
Ele reiterou que a coleta de metadados não significa que o conteúdo dos
telefonemas seja vasculhado pelas agências de inteligência. Segundo
ele, a partir de agora, o acesso ao conteúdo desses telefonemas terá que
ser aprovado por tribunais secretos.
"Acredito que os críticos estão certos quando apontam que sem
salvaguardas este tipo de programa pode ser usado para conseguir mais
informações sobre nossas vidas privadas, e abrir a porta para programas
de coleta de dados mais intrusivos", disse.
O presidente orientou o secretário de Justiça, Eric Holder, e a própria
NSA a apresentarem em 60 dias uma alternativa para armazenar esses
dados.
No entanto, o mandatário americano deixou claro que a retenção de dados
telefônicos pode se tornar uma ferramenta vital para que os mecanismos
de inteligência detectem contatos entre "suspeitos de terrorismo", e
que, por isso, deve continuar.
Requisição de dados
Segundo Obama, os provedores de serviços de comunicação terão de dar mais informações aos seus usuários sobre requisições de dados feitas pelos órgãos do governo americano.
Segundo Obama, os provedores de serviços de comunicação terão de dar mais informações aos seus usuários sobre requisições de dados feitas pelos órgãos do governo americano.
As reformas também vão incluir novas regras para o uso das Cartas de
Segurança Nacional, que obrigam empresas a fornecer informações ao
governo sem saberem o motivo da investigação. Obama disse que, no
futuro, o segredo dessas cartas vai terminar em um determinado período, a
menos que o governo demonstre a necessidade de manter as informações
secretas.
Obama também prometeu aos cidadãos estrangeiros mais proteção em
relação à possível coleta de seus dados, disse que os EUA "não estão
espionando pessoas comuns" fora do país e negou que a espionagem
americana tenha objetivos comerciais.
"Considerando o poder único do Estado, não é suficiente que os líderes
digam: 'Confiem em nós, não vamos cometer abusos com os dados que
coletamos'", disse Obama.
Obama também pedirá ao Congresso que estabeleça uma comissão externa de
defensores da privacidade para o tribunal responsável por monitorar
atividades de inteligência.
Contra o terrorismo
O democrata voltou a defender as práticas de espionagem do governo, que, segundo ele, são essenciais para prevenir ataques terroristas, proteger as tropas americanas e evitar crimes, inclusive virtuais.
O democrata voltou a defender as práticas de espionagem do governo, que, segundo ele, são essenciais para prevenir ataques terroristas, proteger as tropas americanas e evitar crimes, inclusive virtuais.
Segundo Obama, diante disso, é impossível "desarmar unilateralmente" as
agências de inteligência. Ele reiterou que é necessário equilibrar o
respeito à privacidade com as necessidades de segurança.
O presidente americano também voltou a criticar o vazamento de
informações, feitas pelo ex-consultor Snowden, afirmando que "vai levar
anos" até o país entender as consequências.
Segundo Obama, a divulgação de dados secretos permitiu que os inimigos
agora saibam quais são os métodos de monitoramento usados pelo país.
Obama disse que os governos não são o único risco à privacidade dos
usuários, lembrando que as grandes corporações também se valem de
informação online, com fins comerciais.
Vazamentos
As mudanças anunciadas por Obama nesta sexta foram estimuladas pelos vazamentos de informações feitos, ao longo do último ano, por Snowden.
As mudanças anunciadas por Obama nesta sexta foram estimuladas pelos vazamentos de informações feitos, ao longo do último ano, por Snowden.
Snowden, um ex-contratado da NSA e agora exilado na Rússia, divulgou
por meses nos meios de comunicação internacionais denúncias sobre a
espionagem americana de líderes de outros países, como a presidente do
Brasil, Dilma Rousseff, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
As revelações enfureceram os aliados de Washington, envergonharam a
Casa Branca e escandalizaram legisladores e ativistas do direito à
privacidade.
O governo americano assegura que a informação que reúne é usada apenas
para localizar suspeitos de terrorismo e que as autoridades não ouvem
ligações telefônicas pessoais.
Em dezembro, um painel de cinco especialistas escolhidos por Obama
formulou 46 recomendações para mudanças, muitas delas focadas no
programa ultrassecreto de coleta de dados das chamadas telefônicas
feitas no país.
O conjunto de propostas do presidente americano representa um
compromisso entre as exigências dos defensores das liberdades civis, que
consideram inconstitucional a coleta de dados, e as resistências a
qualquer mudança na comunidade de inteligência.


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