O Congresso Nacional promulgou nesta quinta-feira (28) a Proposta de
Emenda à Constituição que prevê o fim do voto secreto para cassação de
mandato de deputados federais e senadores. A PEC do Voto Aberto, como é
conhecida, põe fim também ao voto secreto na análise de vetos
presidenciais.
Uma PEC, depois de promulgada, não precisa passar pela presidente Dilma
Rousseff. Para começar a valer, tem que ser publicada no "Diário
Oficial da União".
O texto havia sido aprovado pelo Senado na terça (26). Mas os senadores
alteraram a proposta aprovada pela Câmara no trecho que previa o fim do
voto secreto também para eleição de membros da mesa diretora de Câmara e
Senado e para indicações de autoridades, como ministros do Supremo Tribunal Federal e procurador-geral da República.
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) entenderam que já era possível promulgar os trechos da PEC em que houve consenso na Câmara e no Senado.
Com a promulgação da PEC, os deputados condenados no processo do
mensalão deverão ter a cassação analisada em votação aberta. Os
deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro
Henry (PDT-MT) e o deputado licenciado José Genoino (PT-SP) deverão
enfrentar processos de perda de mandato na Câmara, já que foram
condenados à prisão por participação no esquema do mensalão.
Pela proposta aprovada pelos senadores, a abertura dos votos para
cassação e vetos valerá apenas para Câmara, Senado e sessões conjuntas
do Congresso. O texto original, aprovado pelos deputados federais em
setembro, estendia o fim do voto secreto também para assembleias
legislativas dos estados e câmaras municipais, mas esse trecho foi
excluído pelos senadores.
A abertura total dos votos no Congresso ganhou força após a votação
secreta, em agosto, que manteve o mandato do deputado Natan Donadon (sem
partido-RO), condenado por peculato e formação de quadrilha pelo
Supremo Tribunal Federal e preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em
Brasília. Depois desse episódio, Henrique Alves afirmou que não
voltaria a colocar processo de cassação em votação no plenário enquanto
não fosse aprovado o fim do voto secreto para processos de perda de
mandato.
Na sessão de promulgação da PEC, o presidente da Câmara disse que, ao
aprovar o Voto Aberto, o Congresso caminha ao encontro de uma “sociedade
mais alerta aos fatos políticos”. Para ele, "os parlamentares devem
assumir suas posições” e "buscar a cada eleição, o reconhecimento
popular”.
“Não há mais espaço para o obscurantismo para decisões reservadas e escondidas”, declarou Alves.
Brecha
Antes de dar início à sessão de promulgação, Renan negou que a PEC, da
forma como foi aprovada, abra brecha para que o voto permaneça sigiloso
nas cassações de mandato e de análise de vetos.
Não há consenso entre os parlamentares sobre e efetividade da proposta
porque o texto apenas retirou a expressão “voto secreto” do artigo da
Constituição Federal que trata das votações de mandatos. Não há
determinação expressa de que o voto será aberto.
Há temor por parte dos parlamentares de que, no caso de omissão por
parte da Constituição, o Congresso utilize o regimento interno, o qual
determina – tanto na Câmara quanto no Senado – que o voto para esses
tipos de deliberações seja sigiloso.
O presidente do Senado argumentou que a Constituição determina que
todas as votações são abertas, com exceção daquelas que a própria Carta
prevê.
“A regra geral é voto aberto no Brasil, salvo as exceções que a
Constituição especifica voto secreto. E essa expressão foi retirada do
texto constitucional, o que significa agora dizer que,
constitucionalmente, o voto é aberto”, afirmou.
O senador lembrou que há um projeto de resolução em tramitação na
Comissão de Constituição e Justiça com a finalidade de reformar o
regimento interno. Ele não garantiu, porém, que o novo documento vai
determinar expressamente o voto aberto para sessões de cassação e de
análise de veto. Ele insistiu que o que prevalece é a Constituição.
“Há uma reforma do regimento que será votada na próxima semana que vai incluir tudo isso indiscutivelmente”, disse.
Questionado se a reforma no regimento vai garantir o voto aberto, o
presidente respondeu: “Quem garante o regimento é a Constituição, que
será promulgada agora pela emenda aprovada nas duas Casas. Não é o
regimento, é a Constituição, que é a lei maior do país”.
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