A tarde de domingo no Beira-Rio esteve bem longe de ser comum. O
primeiro jogo da Copa do Mundo em Porto Alegre reservou mais do que gols, festa
de torcidas e elementos costumeiros em outras partidas do Mundial. A França
venceu Honduras por 3 a 0, com um show de Karim Benzema,
que fez dois gols e foi o autor da finalização de um outro, atribuído a
Valladares, contra. Mas o duelo ficará marcado mesmo é pela influência da
tecnologia da linha do gol em um lance decisivo pela primeira vez, assim como a
ausência dos hinos nacionais das duas seleções antes do começo da partida.
Houve falha no sistema de som.
O resultado deixa o time de Didier Deschamps na liderança do Grupo E da
Copa do Mundo, com três pontos (três gols de saldo). A Suíça vem em segundo,
após a vitória por 2 a 1 sobre o Equador, neste domingo. Na próxima rodada, os
franceses pegam os suíços na sexta-feira, na Arena Fonte Nova, em Salvador. Os
hondurenhos pegam os equatorianos no mesmo dia, na Arena da Baixada, em
Curitiba.
Da
ausência dos hinos ao grito de gol
Uma falha no
sistema de som do Estádio Beira-Rio fez com que os dois hinos nacionais não
fossem executados, como manda o protocolo estabelecido pela Fifa. A torcida
compensou com gritos intensos nas arquibancadas e a famosa "ola"
pouco antes de a bola rolar. Em campo, Honduras teve a primeira chegada ao
ataque, arrancando suspiros dos fãs - que não hesitaram em vaiar assim que os
franceses tomaram a posse de bola. Em cinco minutos, até mesmo gritos de
"olé" surgiram para apoiar os hondurenhos.
Passada a
empolgação inicial dos latino-americanos, os franceses se soltaram. Três
cobranças de falta de Valbuena pela direita causaram alvoroço na zaga
adversária: uma delas foi completada com um chute de Matuidi, que explodiu no
travessão após defesa de Valladares, aos 14. Na lateral do campo, os técnicos
mostravam seus estilos: Didier Deschamps assistia a tudo do banco de reservas,
de onde se levantava raras vezes. À sua direita, Luis Suarez passava o tempo
todo junto à beira da área técnica, como se desejasse chegar mais perto de seus
comandados.
Quando o jogo
esfriou, a torcida tratou de aquecê-lo com mais uma sequência de
"olas". Os times responderam e campo e lançaram-se ao ataque, com a
França tendo novamente as melhores chances. Valbuena chegou a estar livre na
área, 40, mas preferiu o cruzamento ao chute e foi travado. Logo depois, veio o
lance que mudou a história do jogo. Wilson Palacios chegou com o ombro nas
costas de Pogba na área, cometeu pênalti e recebeu o segundo cartão amarelo.
Benzema cobrou firme no canto direito de Valladares e abriu o placar. A torcida
francesa completou com o que faltou no começo do jogo: o hino nacional, a
famosa Marselhesa, cantado à capela.
Tecnologia
entra em campo pela primeira vez
Os primeiros
minutos da etapa final certamente entrarão para a história do futebol. Aos 2,
Benzema completou cruzamento chutando na trave, e a bola seguiu paralelamente
ao gol. O arqueiro Noel Valladares se esticou e alegou ter evitado que ela
ultrapasse a linha final completamente. O árbitro brasileiro Sandro Meira Ricci
deu o gol para os franceses - e aí que a história foi feita. O replay do lance
apareceu nos telões do Beira-Rio e causou reações inéditas tanto em campo
quanto nas arquibancadas.
A torcida
vibrou quando a expressão "no goal" apareceu - o lance foi avaliado
em dois momentos, o primeiro quando a bola bateu na trave. Os jogadores
hondurenhos se desesperaram diante do juiz. A imagem seguiu até mostrar que,
após a bola bater no goleiro, ela cruzou a linha do gol. A expressão
"goal", então, esfriou os latino-americanos e fez Benzema comemorar
sem peso na consciência - apesar de o gol ter sido atribuído a Noel Valladares,
contra.
Depois das
emoções diferentes vividas por atletas e torcedores, o duelo ficou morno. A
França passou a atacar sem afobação, deixando claro que pouparia fôlego para a
maratona no restante do Mundial. Os hondurenhos, com um jogador a menos e dois
gols atrás no placar, tinham mais vontade do que técnica. Matuidi animou a
torcida com um chute que balançou a rede pelo lado de fora, aos 19 minutos e
iniciou uma sequência ofensiva dos Bleus.
Enquanto os
torcedores alternavam momentos de silêncio e euforia, Benzema mostrou por que
carrega a camisa 10 francesa. O atacante do Real Madrid voltou a ser decisivo
depois de pegar sobra de bola na área, após chute forte de Matuidi, e encher o
pé para marcar o terceiro gol francês, aos 26. Animada, a França ainda buscou o
quarto gol apostando nos cruzamentos pelo alto. Ele não veio, o que não fez a menor
diferença para os franceses nas arquibancadas. "Qui ne saute pas
n'est pas français!" (Quem não pula não é francês!), gritavam eles. Depois
de uma tarde tão intensa, quem seria capaz de não pular?


Nenhum comentário:
Postar um comentário