Por falta de acordo, os deputados federais derrubaram nesta terça-feira
(1º) a sessão que analisava o projeto de lei que propõe pequenas
mudanças nas regras eleitorais. A Câmara vai fazer uma nova tentativa de
votar a minirreforma eleitoral em sessão extraordinária convocada para
as 13h30 desta quarta (2). Para valer nas eleições de 2014, o texto
elaborado pelo Senado terá de ser sancionado e publicado no Diário
Oficial da União até sábado (5).
De autoria do senador Romero Jucá (PMDB-RR), a proposta modifica
trechos do Código Eleitoral, da Lei dos Partidos Políticos e da Lei das
Eleições. Entre os pontos discutidos pelos congressistas está a
possibilidade de empresas com concessão de serviço público, como
empresas de transporte público, doarem indiretamente para campanhas
eleitorais (por meio de sócios ou acionistas).
A proposta, entretanto, não muda as regras de financiamento das
campanhas eleitorais – uma emenda que pretendia proibir a doação de
empresas às campanhas eleitorais foi rejeitada pelos senadores.
Apesar de o projeto ter sido construído por um partido da base
governista, o PT fez oposição à minirreforma, se esforçando para impedir
a votação da proposta na Câmara. A obstrução petista foi apoiada por
PDT, PSB, PC do B e PSOL.
Ao longo da sessão, as legendas contrárias às modificações propostas
nas regras das eleições recorreram a instrumentos previstos no regimento
interno, como a apresentação de requerimentos para retirar o projeto de
pauta, para impedir a votação.
Apesar dos apelos do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), para que o PT não obstruísse a análise do projeto, a sigla
decidiu dificultar os planos dos peemedebistas após ter perdido por
apenas dois votos o requerimento de urgência que permitiu que o texto
fosse submetido ao plenário antes mesmo de ser aprovado pelas comissões
temáticas da Casa.
Posteriormente, durante a apreciação de um requerimento para retirar o
texto de pauta, não se alcançou o quórum mínimo de 257 deputados para
analisar o dispositivo. Apenas 230 parlamentares haviam registrado
presença em plenário.
De acordo com o líder do PT, deputado José Guimarães (CE), seu partido é
contra a proposta de Romero Jucá porque o projeto não contempla as
reivindicações de mudanças no cenário político defendidas pela população
durante as manifestações de junho, entre os quais o fim do
financiamento privado de campanhas eleitorais.
“Entendemos que essa reforma que o Senado aprovou pode ser qualquer
coisa, menos reforma do sistema eleitoral brasileiro. É uma reforma
ínfima, não toca em nada, é um faz de conta. Por isso, que a bancada do
PT está votando contra”, reclamou em plenário o líder do PT.
Para o deputado Ricardo Berzoini (SP), representante do PT no grupo de
trabalho da Câmara encarregado de elaborar uma ampla proposta de reforma
política, a minirreforma sugerida pelo Senado “não tem consistência nem
coerência”. “[A proposta de Jucá] vai passar a imagem para a população
que estamos fazendo uma reforma política. Isso aqui é uma nanorreforma
eleitoral”, ironizou.
Para o deputado Ivan Valente (SP), que lidera a bancada do PSOL na
Casa, a minirreforma eleitoral não passa de “pitacos esparsos na
legislação eleitoral”.
“Essa reforma, para dialogar com a sociedade brasileira, é um escárnio,
uma vergonha. Na verdade, é um grande acerto para liberar os partidos”,
criticou Valente.
Já o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), defendeu a aprovação da
minirreforma com o argumento de que é melhor alguma mudança eleitoral do
que nenhuma. Para ele, a proposta traz avanços na transparência e
celeridade do processo eleitoral, apesar de não ser uma ampla mudança da
legislação.
“Tem que se ter um pouco de boa vontade para que se tenha uma mudança
mínima. Entendo alguns frustrados com anseios de fazer uma reforma mais
profunda. Mas, infelizmente, essa Casa não teve consenso [na aprovação
de uma reforma política ampla]”, ponderou Cunha.
Mudanças
As alterações nas regras eleitorais discutidas pelos congressistas não propõem mudanças estruturais no sistema político. Para tentar alcançar o contexto, Jucá e o relator do texto no Senado, Valdir Raupp (PMDB-RO), se limitaram a promover modificações pontuais, como proibir pintura de muros e uso de cavaletes em vias públicas. Conforme os defensores da proposta, a minirreforma vai “reduzir” a burocracia eleitoral.
As alterações nas regras eleitorais discutidas pelos congressistas não propõem mudanças estruturais no sistema político. Para tentar alcançar o contexto, Jucá e o relator do texto no Senado, Valdir Raupp (PMDB-RO), se limitaram a promover modificações pontuais, como proibir pintura de muros e uso de cavaletes em vias públicas. Conforme os defensores da proposta, a minirreforma vai “reduzir” a burocracia eleitoral.
Um dos artigos sugeridos pelo projeto trata sobre os casos em que um
candidato está filiado a dois partidos simultaneamente. Atualmente, a
legislação prevê que quem troca de partido deve comunicar à antiga
legenda e à Justiça Eleitoral sobre o cancelamento da filiação.
Nas ocasiões em que o candidato não fazia a comunicação imediatamente, a
lei dizia que ficava configurada a “dupla filiação”. Como punição, a
Justiça Eleitoral acaba considerando nulas as duas filiações, o que
impede o político de se eleger. O projeto de lei, porém, determina que o
juiz eleitoral apenas cancele a filiação mais antiga, permanecendo a
mais recente.
Outra mudança proposta pela minirreforma é considerar crime a
contratação direta e indireta de pessoas com o objetivo específico de
divulgar mensagens ou comentários na internet para ofender a honra ou
denegrir a imagem de um adversário político, partido ou coligação. O
projeto prevê pena de detenção de dois a quatro anos para os autores da
difamação, mais o pagamento de multa entre R$ 15 mil e R$ 50 mil.
Além disso, as modificações eleitorais determinam que a eventual
substituição de um candidato só poderá se dar se ocorrer com pelo menos
20 dias de antecedência da eleição, à exceção dos casos de morte. Hoje,
as siglas são autorizadas a substituir a qualquer momento um candidato
considerado inelegível, que renunciou ou teve seu registro indeferido ou
cancelado.
Muitas vezes, políticos que eram, por exemplo, barrados pela Lei da
Ficha Limpa se mantinham na disputa eleitoral até a véspera do pleito
para evitar a retirada de seu nome e de sua foto da urna eletrônica.
Posteriormente, os votos atribuídos a ele eram encaminhados para seu
substituto na eleição.
Por outro lado, a proposta de Romero Jucá dispensa os candidatos de
apresentarem recibos nos casos de cessão de bens móveis que não
ultrapassem R$ 4 mil. O texto também libera os políticos de prestarem
contas de doações em dinheiro entre candidatos, partidos ou comitês
financeiros que tenham como objetivo bancar despesas decorrentes do uso
comum de sedes e de materiais de propaganda eleitoral. Na avaliação da
assessoria legislativa da bancada do PSOL, a medida irá fragilizar a
fiscalização e a prestação de contas eleitorais.
Outro artigo polêmico é o que classifica como “propaganda antecipada” a
utilização de redes de radiodifusão pelos chefes dos Três Poderes para
divulgar atos que simbolizem propaganda política ou ataques a partidos
políticos. A falta de clareza em trechos inseridos no artigo 37 da Lei
das Eleições pode permitir o uso político da nova regra.
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