O ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, afirmou que a
cláusula que obrigou a estatal a comprar por um alto valor uma refinaria
de Pasadena, nos Estados Unidos, é comum em aquisição de empresas.
Gabrielli estava à frente da petroleira quando as negociações para a
compra da refinaria, iniciadas em 2006, ocorreram. A presidente Dilma
Rousseff, que na época presidia o conselho da Petrobras, divulgou nota
na última quarta-feira (19), dizendo que aprovou o negócio com base em
um relatório "falho", que omitia essa cláusula.
A operação é investigada no Tribunal de Contas da União (TCU), na
Polícia Federal e no Ministério Público, por suspeita de
superfaturamento e evasão de divisas.
Na nota, Dilma fez referência à cláusula chamada de Put Option, que
determinava que, em caso de desacordo entre os sócios, a outra parte
seria obrigada a adquirir o restante das ações. Foi o que aconteceu
entre a Petrobras e a belga Astra Oil.
A Astra Oil comprou a refinaria de Pasadena em 2005, por US$ 42,5
milhões. Um ano depois, a estatal brasileira decidiu adquirir 50% da
refinaria ao custo de US$ 360 milhões, e se tornou sócia da emprega
belga.
Em 2008, as companhias entraram em desacordo e a Astra Oil se baseou na
cláusula Put Option para exigir na Justiça que a Petrobras comprasse o
restante da refinaria. O valor determinado por um juiz dos EUA foi US$
820,5 milhões, pagos em 2012.
No total, o negócio custou US$ 1,18 bilhão à empresa brasileira, valor
mais de 27 vezes superior ao que a Astral Oil pagou pela refinaria em
2005.
Gabrielli, que deixou a presidência da Petrobras em 2012 e atualmente é
secretário de Planejamento no governo da Bahia, disse nesta
quinta-feira (20) que a cláusula que obrigou a Petrobras a adquirir os
50% restantes é normal em operações desse tipo.
"A Put Option é uma cláusula comum nas aquisições de empresas porque
ela reflete apenas o direito, de quem está vendendo, em determinadas
circunstâncias, de vender para o outro", afirmou.
"Em geral, em todas as aquisições, quando você compra uma participação
acionária, você leva em conta a possibilidade de vender depois. Então,
você cria mecanismos para isso, do ponto de vista contratual",
acrescentou Gabrielli. "Qualquer banco de investimento pode atestar que é
uma cláusula comum".
A nota da Presidência da República, divulgada na última quarta, diz que
o documento apresentado pela área internacional, chamado de resumo
executivo, omitia ainda uma segunda cláusula, conhecida como Marlim, que
garantia à sócia da Petrobras um lucro de 6,9% ao ano mesmo que as
condições de mercado fossem adversas.
O governo disse que a compra não teria sido aprovada pelo conselho da
Petrobras se as duas cláusulas tivessem constado do resumo.
Perguntado se todos os diretores e conselheiros tiveram acesso a
informações relevantes para a decisão da compra, Gabrielli disse que não
comentaria processos internos da Petrobras.
Impacto nas contas da estatal
Gabrielli reconheceu que a compra da refinaria teve impacto nas contas da estatal, mas acredita que não tenha comprometido a empresa. "Não há como um valor desse comprometer uma empresa que vale o que a Petrobras vale. Na verdade, você tem um impacto importante. Não há dúvida que o impacto é importante."
Gabrielli reconheceu que a compra da refinaria teve impacto nas contas da estatal, mas acredita que não tenha comprometido a empresa. "Não há como um valor desse comprometer uma empresa que vale o que a Petrobras vale. Na verdade, você tem um impacto importante. Não há dúvida que o impacto é importante."
O ex-presidente da estatal defendeu o negócio, afirmando que a compra
dos primeiros 50% da refinaria, em 2006, ocorreu em um momento em que o
mercado brasileiro não crescia. "A decisão de ir para os EUA é uma
decisão de 1999. Desde 1999 ela (a Petrobras) vem registrando
oportunidades para descobrir refino nos EUA", afirmou. "Essa era uma das
refinarias. Ela foi adquirida a preços que correspondem à metade dos
preços do mercado."
Sobre o valor pago, Gabrielli disse: "Primeiro tem um erro. Não há esse
valor de US$ 360 milhões da primeira parte". Segundo ele, os primeiros
50% da refinaria foram comprados por US$ 190 milhões, valor que
"representou a mudança que ocorreu no mercado americano entre 2005 e
2006", comentou, sobre a comparação com os US$ 42,5 milhões pagos pela
Astra Oil.
"E esses outros US$ 170 milhões correspondem a estoques que estavam na
refinaria, que foram processados nos próximos anos", completou.
"Portanto, é necessário levar em conta que você comprou metade da
capacidade por US$ 190 milhões e a matéria-prima e produtos
intermediários equivalentes ao valor de US$ 170 milhões".
TCU diz que havia informações
Ao portal de notícias G1, o ministro do TCU, José Jorge, afirmou nesta quinta que o Conselho de Administração da Petrobras tinha acesso a informações completas antes de decidir sobre a compra da refinaria.
Ao portal de notícias G1, o ministro do TCU, José Jorge, afirmou nesta quinta que o Conselho de Administração da Petrobras tinha acesso a informações completas antes de decidir sobre a compra da refinaria.
Atualmente, o processo que analisa a operação tramita na área técnica
do TCU, no Rio de Janeiro. José Jorge diz esperar que até abril o
relatório já esteja em seu gabinete, para que ele possa redigir seu
voto. "A gente quer analisar isso logo. Já está no TCU desde março do
ano passado, queremos finalizar logo", afirmou.

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